sábado, março 27

Defenestração


 "Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra.
  Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Aonde eles chegassem, tudo se complicaria.
— Os hermeneutas estão chegando!
— Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...
  Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter um sentido oculto.
— Alô...
— O que é que você quer dizer com isso?
  Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
— Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.

 Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água. Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas.
  Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussufrar no ouvido das mulheres:
— Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas... Ah, algumas defenestravam.
  Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais.
  Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais? "Nestes termos, pede defenestração..." Era uma palavra cheia de implicações.
  Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em:
— Aquele é um defenestrado.
  Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata.
  Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. "Defenestraçao" vem do francês "defenestration". Substantivo feminino.
Ato de atirar alguém ou algo pela janela.
Ato de atirar alguém ou algo pela janela!
  Acabou a minha ignorância mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?
  Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como o rapé. Um vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo. — Les defenestrations. Devem ser proibidas.
— Sim; monsieur le Ministre.
— São um escândalo nacional. Ainda mais agora, com os novos prédios.
— Sim, monsieur le Ministre.
— Com prédios de três, quatro andares, ainda era admissível. Até divertido. Mas daí para cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: "Interdit de defenestrer". Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.
  Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.
— É esta estranha vontade de atirar alguém ou algo pela janela, doutor...
— Hmm. O impulsus defenestrex de que nos fala Freud. Algo a ver com a mãe. Nada com o que se preocupar — diz o analista, afastando-se da janela.
  Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada.
  Na lua-de-mel, numa suite matrimonial no 17º andar.
— Querida...
— Mmmm?
— Há uma coisa que eu preciso lhe dizer...
— Fala, amor.
— Sou um defenestrador.
E a noiva, em sua inocência, caminha para a cama:
— Estou pronta para experimentar tudo com você. Tudo!
Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta para cima e balbucia:
— Fui defenestrado...
Alguém comenta:
— Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela!
  Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta crônica. Se ela sair é porque resisti."

Se num me engano essa crônica é do Luis Fernando Veríssimo.

Primeiro Post

"Todo mundo entra na Blogosfera do mesmo jeito – pela porta dos fundos, pelado com a mão no bolso, e geralmente sozinho e sem saber lhufas do assunto. E acaba fazendo m*rda coisas erradas. Errar e aprender são ossos do ofício de ser ignorante; ser ignorante faz parte do ofício de ser novato. Em qualquer coisa, e os blogs não escapam à essa regra."
O primeiro post geralmente é sem noção, o autor está em um mundo novo e não sabe com que tipo de público está lidando (a gama de pessoas que usam a internet é muito grande, até a avó do tio Sandro, cega dos dois olhos e com mal de Alzheimer acessa a net), porém antes da criação de um blog, temos em mente um assunto a ser tratado e esse assunto acaba que de alguma forma filtrando o público que vai ler seu blog, afinal a net te dá livre arbítrio pra ler o que te der na telha (a não ser os spams malditos).
 A escolha do nome também é sem noção, levando vários blogueiros a trocar o nome depois de algum tempo, pq o nome remete a idéia do que vai ser apresentado no blog.
 Antes de criar o blog, várias idéias vieram à minha cabeça, falar sobre skate, esportes radicais (isso inclue o skate), música, tecnologia, mas eu vi que mó galera aí já se preocupa com isso, só que não tem uma galera que se preocupa com o que tem que se preocupar de verdade, que são os problemas da natureza, a política e muitos outros problemas.
 Meu blog tem como objetivo (vou ser curto e grosso) contestar o que acontece de errado na sociedade desde à ecologia à política, mas não de forma séria e agressiva e sim de forma engraçada e tambem criticar de forma construtiva o que acontece no nosso cotidiano e não levamos muito a sério.
 Sou novo nesse ramo, vamos ver no que vai dar...

P.S.: O significado do nome do blog vai ser explicado assim que o número de acessos seja grande, mas, nada impede você de googlar o que pode ser essa expressão.